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Marques Rebelo (1907–1973)

Autore di A estrêla sobe

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(eng) Marques Rebelo is the pseudonym of Eddy Dias da Cruz.

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Informazioni generali

Nome canonico
Rebelo, Marques
Nome legale
Cruz, Eddy Dias da
Altri nomi
Rebello, Marques
Data di nascita
1907-01-06
Data di morte
1973-06-26
Sesso
male
Nazionalità
Brazil
Attività lavorative
writer
journalist
Nota di disambiguazione
Marques Rebelo is the pseudonym of Eddy Dias da Cruz.

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Segnalato
Marcia_Ries | Jun 1, 2023 |
Pelo novo espaço, cheio de contradições, se move.
 
Segnalato
bibliotecaceres | 1 altra recensione | Jul 20, 2022 |
Deveria escrever sobre o romance «A Estrela Sobe», de Marques Rebelo. O autor é um dos meus prediletos e o livro, até onde sei, um dos mais importantes dele, tendo alcançado grande sucesso de crítica e público — inclusive virou filme em 1974.

Mas os acontecimentos praticamente me impedem de escrever a respeito. Co-mo falar de literatura em meio a um País que desmorona? Que, governado por uma elite psicopática no mais alto grau, afunda em meio ao desespero, em meio à loucura e ao crime generalizado.

Não tenho forças — nem seria o caso — para analisar a situação, sondar suas origens e causas profundas — outros o farão com mais competência e esmero.

Mas penso que, de algum modo, o texto de Marques Rebelo, como toda grande obra literária, joga luz, ainda que parcialmente, sobre a realidade e, no caso, sobre a origem de nossos males.

A personagem principal, Leniza, é um tipo banal. Menina desmiolada, sem re-cursos intelectuais ou espirituais, vive a vida de modo quase inconsciente, sem saber muito bem o que faz e por quê o faz:

- Não sei o que quero, Oliveira. Sei é que não quero o que você me tem proposto.
- Mas que diabo, então, você quer?
- Não acabo de dizer que não sei? (Marques Rebelo, A estrela sobe (Nova Fronteira, 2001), p. 34).

Esse é um traço muito comum do espírito brasileiro. Agimos sem saber muito bem para quê ou por quê. Não fazemos planos, não concebemos projetos de longo prazo, não estabelecemos metas. Tudo o que fazemos é de ocasião, é de improviso. Não temos o costume do esforço, constante e sistemático, em prol de um objetivo a ser alcançado num futuro distante. Nossas ações são de curta duração, são explosões de entusiasmo e energia que logo se exaurem, se gastam, restando daí uma prostração, uma inércia quase insuperável.

Leniza faz o que quer, ela é livre, dona de seu nariz («(...) quero ser livre, Oliveira! Dispor de mim, você não compreende? Dispor de mim. Fazer o que entender») (p. 36). Mas que tipo de liberdade é essa que não serve a objetivo ou propósito algum? A mesma pessoa que afirma não saber o que quer é a que afirma retumbantemente ser é livre — lembro a respeito a frase de Bernanos: «liberdade para quê?».

Essa inconsciência do querer se manifesta de forma mais patente quando nos damos conta que de fato existem duas Lenizas — uma boa e outra, má:

[f]oi arrastada pelo outro «eu» que havia nela, um «eu» mais forte que ela mes-ma: (...)
(...) Ela abafou o grito selvagem, na sensação inglória e dolorosa de que estava sendo aberta ao meio, rachada, dividida em duas Lenizas: Leniza-Bem, Leniza-Mal — destruída para sempre a Leniza-Verdadeira, a que era Bem e Mal... (p. 60 e 82).

Existem, portanto, duas Lenizas que se debatem e lutam uma contra a outra. No entanto, nenhuma das duas prevalece definitivamente — a vontade é fraca, tíbia, sem direção, sem rumo. Leniza diz ser livre, mas isso é o que ela positi-vamente não é: não existe liberdade sem força de vontade, sem propósito, sem rumo definido. Viver ao sabor das circunstâncias, sendo levado para cá e para lá — como no caso de Leniza — é talvez o cúmulo da escravidão.

Num acesso de autoconsciência raro nesse tipo de situação, Leniza exclama: « — Eu sou louca, Oliveira. Eu sou louca!» (p. 45). Oliveira, único verdadeiro amor de Leniza — e, como tudo o mais no romance de Marques Rebelo, um relacionamento falhado, incompleto, frustrado —, traça, em linhas cortantes, o modus vivendi da protagonista:

— Leniza, você não é louca, nada louca. Nenhum louco se acha louco... Mas é incompreensível, sem controle, sem direção, disparatada. Tudo em você é contraditório, inconseqüente, ilógico, absurdo. Sente que está sendo ilógica, inconseqüente, absurda, mas não se importa, não se trava — quer falar, quer se abrir, quer se esvaziar como um alívio (...) (p. 46).

Não existe Leniza, mas várias Lenizas: contraditórias, inconseqüentes, ilógicas. Todas elas em guerra, todas elas lutando umas contra as outras num turbilhão de vontades, desejos, sonhos e delírios sem fim. Leniza é uma casa dividida contra si mesma — não há o mais mínimo de ordem na alma de Leniza; há o caos e a luta fratricida de uma alma partida em vários pedaços.

Platão tratando na «República» da decadência da pólis ideal, da pólis dos filósofos, fala das quatro etapas da queda que, num tempo mítico, fora da história, se manifestaria na seqüência dos regimes da timocracia, da oligarquia, da democracia e da tirania.

Ao analisar a passagem da oligarquia para a democracia, Platão menciona que o homem oligárquico — o tipo prevalecente na sociedade oligárquica — encontra-se à beira de uma guerra interna («all the man is one internal war») (República, 556e). Quer dizer com isso que o homem oligárquico não possui um prin-cípio de unidade, que sua alma não se organiza em torno de um princípio diretor, mas é como que dividida em facções que estão no limite de uma luta aber-ta. O equilíbrio do homem oligárquico é mantido de forma precária, frágil, bastando uma simples ocasião («only a slight occasion») para que esse desequilíbrio se rompa e a guerra interna estale.

Ao fazer a passagem para a democracia, Platão menciona logo de saída que na pólis democrática todos são livres, que a pólis está «cheia de liberdade», que todos podem dizer e fazer o que bem entenderem («and has not every man licence to do as he likes?»). Mais ainda: Platão aponta que no regime democrático existem todos os tipos e todas as condições de homens, uma heterogeneidade total — espécie de multiculturalismo avant la lettre. Arrematando a descrição, Platão menciona que a democracia é anárquica e variegada («anarchic and motley»).

Ao tratar do homem democrático, Platão segue a mesma linha de raciocínio — a alma do homem democrático é dominada por facções em permanente conflito, controlada por paixões e desejos desnecessários em constante estado de tumulto. Insolência, anarquia, prodigalidade e falta de vergonha na cara são os traços típicos do homem democrático. Mas há aqui uma inversão: esses vícios não são tratados como tais, mas sim como grandes virtudes. Insolência é «boa criação»; licença, «liberdade»; prodigalidade, «magnificência»; cara de pau, «virilidade».

Além disso, o homem democrático vive sua vida de maneira absolutamente caótica, sem nenhum rumo, sem nenhuma direção — a cada novo dia, um novo desejo, uma nova resolução («also live out his life in this fashion, day by day indulging the appetite of the day») (República, 561c).

Em suma, tanto o homem com a pólis democrática não possuem ordem nenhuma. São compostos, cada qual, de muitas partes, de muitos elementos, todos em conflito uns com os outros. Preenchido de muitos desejos, de muitos apetites — a grande maioria desnecessários —, o homem típico da democracia vive desordenadamente, sem propósito firme algum ou, melhor dizendo, trocando de propósito a cada dia, por mero capricho, sem nenhuma lógica. A alma do homem democrático é uma colcha de retalhos sem nenhum padrão, sem nenhuma ordem — ela vive em guerra interna permanente.

Ao ler o romance de Marques Rebelo, e ao notar o comportamento de Leniza — sua instabilidade, sua falta de direção, sua volubilidade —, lembrei-me da descrição do homem democrático de Platão. E não é assim mesmo? Não vivemos num mundo povoado de Lenizas? De pessoas que não sabem o que querem, não sabem para onde vão, o que desejam, o que realmente devem ou não devem fazer? Não somos todos nós, em maior ou menor grau, birutas ao vento, tal como Leniza, mudando de direção ao sabor das circunstâncias, sem sabermos como impor nossas vontades, nossos propósitos, nossos planos?

Jules Payot, em «A Educação da Vontade», fala que, até meados do século XVIII, a disciplina da vontade, dos propósitos, não era um problema — a Igreja Católica, com toda a sua autoridade, exercia uma influência poderosa sobre as consciências, guiando-as no caminho determinado pelos santos e pelos doutores da fé. Entretanto, já no tempo dele — fins do século XIX —, as coisas já não eram assim. Desaparecida a influência do clero católico, as consciências se viram sem rumo, sem propósito, soltas no mundo em meio ao turbilhão das circunstâncias e do acaso.

E não é o caso de notar apenas o desaparecimento da influência reguladora da Igreja. Há também de se notar o desaparecimento da influência da própria família. Esta também, em tempos passados, exercia uma poderosa influência sobre seus membros — ninguém escapava da influência e educação domésticas. Isso porque, segundo Eric Voegelin, falando sobre a «República», de Platão, pai, mãe, irmãos, amigos, conhecidos, etc. são tantas forças psíquicas que atuam na alma do indivíduo, sendo esta nada mais nada menos do que uma sociedade de forças psíquicas («[t]he psyche is a society of forces») (Eric Voegelin e Dante L. Germino, Order and History: Plato and Aristotle. Volume III (University of Missouri Press, 2000), p. 179).

Ora, no caso de Leniza, quais seriam as forças psíquicas a atuar em sua alma de maneira retificadora, isto é, como elementos que poderiam emprestar algum princípio àquela alma «sem controle, sem direção, disparatada»? A primeira força psíquica que vem à mente seria a do pai, Seu Martin Máier. O problema é que o homem morreu cedo, quando Leniza ainda era uma pequena criança, não havendo tempo de exercer uma influência positiva na sua alma. Ainda assim, mesmo que Seu Martin não tivesse desaparecido tão precocemente, não parece que pudesse exercer essa influência ordenadora na alma de Leniza — era gastador, vivendo sempre nas mãos de credores («[g]astava quanto ganhasse, se endividando mesmo por amor a uma porção de pequenos luxos bur-gueses») (p. 10).

As outras forças psíquicas a influenciarem — ou que poderiam influenciar — Leniza são Mário, Dulce, Oliveira, Porto, Seu Alberto e Dona Manuela. O primeiro, Mário, evidentemente não pode ser uma influência, senão negativa. É um aproveitador rastaqüera, um pilantra, um estróina. Talvez seja um dos grandes responsáveis pela corrupção de Leniza, ao introduzir esta no mundo do rádio e dos artistas — quase todos uns transviados. O mesmo se diga de Dulce que inicia Leniza na prostituição. Oliveira, talvez o único verdadeiro amor de Leniza, poderia, em certa medida, ser a influência ordenadora que ela tanto necessitava. Mas é fraco, uma alma derrotada pela dureza da vida, incapaz de reagir e tomá-la em suas próprias mãos. Oliveira é mais o resultado, a manifestação, da alma partida do que um fator de cura. E, mesmo assim, cansado da situação humilhante no seu relacionamento — igualmente falhado — com Leniza, ao fim desiste dela, abandonando-a à própria sorte na cena em que recusa arranjar o procedimento abortivo que ela buscava tão sofregamente.

Sobram três personagens, três forças psíquicas: Porto, Dona Manuela e Seu Alberto. Começando pelo último, Seu Alberto é o cume da inconsciência beócia. Um idiota completo que, muito provavelmente, por conta de sua sugestão leviana a respeito do talento musical de Leniza, tenha colocado a vida desta no rumo da devassidão e do desespero. É um exemplo clássico de inconsciência — o sujeito que não consegue atinar com causa e efeito; que não consegue perce-ber um palmo à frente do nariz; que foi incapaz de notar que, ao sugerir uma carreira de diva do rádio à Leniza, poderia estar condenando-a à uma vida de dissipação, de excessos, de pouquíssima ou nenhuma virtude dada a influência perversa do meio artístico.

Porto, como o próprio nome indica, poderia ter sido o porto seguro de Leniza — e talvez mesmo o fosse. Apesar de o relacionamento de ambos ter começado de forma nada ortodoxa — começa como um acerto de prostituição, Leniza oferecendo-se por trinta dias por um punhado de moedas —, fato é que o afeto se desenvolve em ambos, Porto mostrando-se uma companhia boa, justa e amiga: « — Você é tão bom, Porto. Daria um bom marido. Palavra! Por que é que você não se casa?» (p. 187).

O problema é que Leniza, em mais um de seus gestos súbitos, inopinados, sem a mais mínima reflexão, dá cabo do relacionamento, entregando-se, como prostituta de luxo, nos braços de Amaro, velho rico e loucamente lascivo. O relacionamento quebra-se irremediavelmente:

Porto quisera, a princípio, ser calmo e irônico — Você é surpreendente, meu amor! — mas acabou por magoar-se seriamente. Leniza tentou explicar, tentou lembrar-lhe o acordo, mas ela mesma já se arrependia da precipitada decisão, só não queria dar o braço a torcer, e explicava por explicar... Mas ele não aceitara a explicação. Ela acabou por se sentir-se vencida. Chorara, ajoelhara aos pés de-le, sinceramente arrependida, pedindo perdão. Foi inútil. «Não! Não! Tudo que você precisasse, Leniza, eu haveria de arranjar. Você nem sabe como eu já esta-va gostando de você!...» Ela sabia. Como era delicado, terno, complacente para suas tolices. Como procurava corrigir seus gestos impensados e as bobagens que dizia. Perto dele sentia-se contente, plácida, satisfeita... (...) (p. 191).

Sobra, então, Dona Manuela, a mãe. Seria ela a pessoa mais adequada, mais talhada, para exercer uma influência positiva sobre a alma de Leniza, como uma espécie de princípio ordenador, em torno do qual os vários elementos em luta na psique dessa última pudessem cada qual encontrar o seu lugar.

Acontece que Dona Manuela não desempenha esse papel — não porque se negasse, mas porque não tinha tônus moral, não tinha recursos espirituais para tanto.

É uma mulher calada que, apesar de amar sua filha, dificilmente demonstrava afeto. Sonhava com um bom casamento para Leniza, de modo que esta pudesse seguir vida semelhante à sua, junto a um homem sério e bondoso que a provesse.

Dona Manuela é boa pessoa — séria, honesta, trabalhadora, econômica, etc. Mas essa bondade é insuficiente, é fraca, é passiva. Ela é o retrato perfeito, a encarnação ideal, das virtudes do bom burguês, daquele sujeito que é bom funcionário, cumpridor de ordens, zeloso de seus deveres profissionais e domésticos, em suma, bom cidadão. Dona Manuela é isso — dona de casa exemplar, esposa fiel, trabalhadora infatigável, mãe zelosa.

Nada disso, no entanto, dá à Dona Manuela forças para enfrentar os desafios que se lhe apresentam com relação a Leniza. Ela não vê, em nenhum momento, o abismo no qual a filha se precipita. Ou, mesmo que, de algum modo, pressinta o risco, é incapaz de uma decisão enérgica, firme, de um «não» decidido.

Dona Manuela não comanda o seu lar, sendo arrastada, tal como a filha, pelas circunstâncias. A bondade existe, mas é inerte, passiva, como que contida, sem energias para se manifestar em gestos largos, em ações decisivas.

Esse caráter burguês das virtudes de Dona Manuela, sua total fraqueza na defesa dos destinos de Leniza, revela-se de maneira acachapante no momento da descoberta, da anagnorisis — a partir da leitura da carta anônima, que revela o comportamento devasso e sórdido de Leniza, Dona Manuela nitidamente murcha, encolhe-se, numa impotência, numa ausência de reação que chega a ser enervante para quem lê o desenrolar da trama. Ao invés de reagir, de cobrar explicações da filha, de passar-lhe um pesado sermão, de exigir uma drástica mudança de vida — os antigos meteriam Leniza num convento —, Dona Manuela cala-se, mostrando sua contrariedade apenas pela mudança formal de tratamento: não chama mais Leniza de «minha filha», e sim de «você».

No fim, quando Leniza, à beira da morte, em meio a acessos de delírio causa-dos pela febre altíssima , revela todos os lances sórdidos de sua vida, Dona Manuela mostra-se novamente incapaz de qualquer reação — cuida da filha, é verdade, mas feito autômato. Sim, o choque é terrível, brutal. Mas houve tempo para absorvê-lo, processar essas informações — por mais terríveis que fossem — e reagir, lutar pela vida e pelos destinos da filha. Dona Manuela não faz nada disso — sua participação na vida de Leniza termina laconicamente, de maneira patética, com o abandono do campo de batalha:

13 de... (sexta-feira) — Quando acordou eram já dez horas e o sol ia alto, um sol escondido que não furava as nuvens. Levantou-se, caminhou para o banheiro. Passou pela sala — a mãe não estava. Passou pela cozinha — a mãe não estava. Esforçou-se para supor: teria saído apenas? Mas não foi possível. Sabia muito bem que não teria saído apenas. E acudiram-lhe os rumores de véspera, quando já estava meio adormecida — abrir e fechar de gavetas, barulho de objetos sobre a mesa, barulho de papel embrulhando, ranger de tesoura cortando. Uma dor no coração — só! (p. 238-239).

A vida de Leniza é um desastre. Uma vida de desejos contraditórios, fraqueza de vontade, falta de direção, loucura, impulsos. A situação no final do livro é tão deprimente, de um gosto tão amargo, que nem mesmo na religião — religião de sua infância e meninice — Leniza consegue encontrar conforto e orientação: vê a igreja da rua do Rosário com as portas fechadas: «[a]h!, e estacou — a igreja estava fechada. O papel caiu-lhe da mão ou ela jogou-o fora? Não! O céu não me quer!» (p. 241).

Leniza se perde na vida, mas a derrota não é exclusivamente sua. Quantas pessoas, quantas vidas cruzaram com a sua e foram incapazes de ajudá-la, de guiá-la, de orientá-la. S. Luís Maria Grignon de Monfort, escrevendo nos primeiros anos do século XVIII, notava, já naquele tempo, a dificuldade para se perseverar na justiça «por causa da corrupção do mundo» (São Luís Maria Grignon de Montfort, Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem, 46ª ed (Petrópolis: Editora Vozes, 2015), p. 96). Dizia ele que:

[o] mundo está, atualmente, tão corrompido, que é quase necessário que os corações religiosos sejam manchados, se não pela lama, ao menos pela poeira dessa corrupção (...).

O nosso mundo, o mundo de Leniza, não está em situação melhor. Não temos mais a influência poderosa da Igreja Católica, nem mesmo dos grandes filósofos. Nosso mundo anda à deriva, sem princípio de ordem, sem direção. Não temos mais — imagem que Sócrates tantas vezes traz à tona na «República» — o piloto que governe o timão.

Se Leniza tem culpa pela ladeira abaixo em que coloca sua vida, também temos culpa todos nós — toda a sociedade. Esse conjunto de forças deveria atuar para, na maior medida do possível, colocar a vida dos indivíduos numa boa direção, numa direção adequada. Mas não fazemos isso, seja por incapacidade, fraqueza ou indolência.

O que Marques Rebelo nos mostra, então — ou ao menos o que mais me chamou a atenção em «A Estrela Sobe» —, é que todos nós, em maior ou menor medida, participamos do mal de Leniza, de Dona Manuela, Seu Alberto, Oliveira, etc. Não temos rumo, somos fracos, quase que completamente incapazes de resoluções firmes e duradouras, de longo prazo.

Marques Rebelo é grande artista, grande escritor, pois consegue espelhar com nitidez essa face de nossa constituição, esse mal du siècle que nos consome e derrota — e faz isso com grande sensibilidade e simplicidade, com um estilo conciso, fácil, rápido, mas que não abre mão da precisão na descrição psicológica, não permitindo, no entanto, que estas se transformem em monólogos existencialistas daqueles que enchem o saco do mais paciente dos cristãos.

Sim, a conclusão final é que Leniza está entre nós — às centenas, aos milhares. Somos todos, em maior ou menor medida, Lenizas: birutas ao vento sem raízes, jogadas de um lado ao outro pelas circunstâncias do momento. Além disso, não contamos com nenhuma força social, nenhuma força psíquica, a contrabalançar a loucura reinante — onde está a Igreja? Onde está aquela poderosa força que moldava corações e mentes? E isso, mui certamente, é a origem — ao menos parte dela — de todos os nossos males: sociais, políticos, econômicos.
… (altro)
 
Segnalato
Fernandosfjr | 1 altra recensione | Aug 11, 2016 |

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