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Sto caricando le informazioni... Pequenos Mistérios (Portuguese Edition)di Bruce Holland Rogers
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O Vento como femme fatale
Um conto mais longo do Rogers — e isso quer dizer que saímos das duas~três páginas costumeiras para sete~oito. Logo, é mais intricado, há mais espaço para a narrativa correr, e mais espaço para desenvolver personagens.
O Bruce, aliás, se aproveita disso para pautar o conto todo em um personagem. Num cenário que passa por Kansas, Denver e Boulder, naquelas pequenas montanhas tortuosas onde sobem e descem carros a todo tempo, e de onde se olha lá de cima para o brilho da cidade lá embaixo, nosso protagonista pensa no estado atual do seu relacionamento. Um amor quase juvenil, bonitinho. Está tudo muito dando certo. Tudo encaminhado. E então... há um salto no tempo. Quinze anos de um parágrafo a outro, e o rapaz — agora um homem — já se casara e divorciara duas ou três vezes, mas ainda não conseguia tirar da cabeça aquela noite (a noite da abertura da narrativa) nas montanhas: o vento, a sensação, as luzes.
Ele começa a perseguir aquela sensação. Escolhe se mudar para Boulder (segundo o Urban Dictionary há até uma giria para as mulheres/homens bonitos da região) justamente por conta do vento e das mulheres: faz todo um planejamento para que consiga se apaixonar por "alguém tão jovem quanto ele desejava se sentir", frequenta (como visitante) uma ou duas aulas por semestre, patrulha bares universitários e livrarias. Ele é desenrolado, e consegue; "apaixona-se" segundo o narrador, grita o nome da menina aos quatro ventos, e quando transam pela primeira vez a paixão acaba. Repete o processo. A mesma ladainha de sempre para seduzir mulher e transar; mas, uma hora algo parece mudar. De quando em quando começa a ver algo de canto de olho, se vira na direção nada vê. Persegue, e a silhueta some. Até que, um dia, voltando da casa de uma das namoradas, a vê pela primeira vez: sobrenaturalmente alta, magra e de longos cabelos negros. Desaparece aqui, e aparece ali ou mais adiante: é a personificação do vento.
A partir daí corre o grosso da narrativa, e nos emaranhamos e nos sufocamos tanto quanto o personagem principal em cabelo e vento. É delírio do personagem? É uma mulher de verdade? É apenas o vento? Só lendo e tirando as próprias conclusões. A reta final do conto é muito, muito boa, violenta e estranha, tanto que só posso entregar algumas partes:
Alexandrian Light— Conto — 4.0*
Manaus envolvida num Sci-Fi
A trama Cyberpunk num canto de Manaus me faz relevar o fato dele achar que a gente fala portunhol. A narrativa de três páginas é toda pautada em uma metáfora interessante. Caiu algo alienígena em Manaus, e as três potências do mundo (União Soviética, EUA e União Sino-Japonesa) estão se estapeando para serem os primeiros a chegar lá. Nossos dois protagonistas, porém, chegaram primeiro. Um brasileiro e outro cara que só sabemos se chamar Hacker — e parece saber o que está fazendo. A conclusão, que tem a ver com anjos, com a Biblioteca de Alexandria e com "barbarismo", você vai ter de ler para descobrir.
(Tudo isso em três páginas!!!! Já está virando chavão falar isso, mas sempre me pega. A partir de agora sempre que me lerem falando do Bruce Holland me imaginem de olhos arregalados e fazendo o sinal de "só três páginas!!!" com a mão.)
Don Ysidro — Conto — 4.0*
Herança Machadiana
É impressionante o quanto de uma narrativa o Bruce Holland consegue mover com duas, três páginas. Ele é um dos mestres do miniconto, sem dúvidas. Só consigo ver duas razões do porquê dele não ser conhecido aqui, nessa ordem: 1. Só há uma edição, e é portuguesa. Ela não chega aqui, e muito menos seus contos (que estão espalhados por um monte de antologia). 2. O interesse por essa formazinha (diminuta só em quantidade de palavras) caiu. Lembro que já houve uma época que os mini e microcontos eram mais populares, acho que talvez por conta dos blogues — hoje mortos.
Com um parágrafo ele te insere totalmente na história e já te enche de perguntas. Aqui acompanhamos um narrador que morre já nas primeiras linhas, e ele continua narrando a história mesmo morto. Até aí tudo bem, há uns joguinhos com a perspectiva do morto (a esposa, viva, começa a responder por ele e a gente até certo momento não sabe se ela está ouvindo-o ou se apenas o conhece muito bem); o cenário é um desses antigos vilarejos hispânicos ou chicanos, e, ao mesmo tempo, parece um lugar real e fictício, com seus padres e com seus cristãos devotos.
E então… o povo pede o rosto e as mãos do morto.
E ele concede.
Aí… aí você tem de ler. Em três páginas ele dá umas cinco voltas no leitor, e o conto termina — mesmo em meio a rituais macabros e estranhos — com uma mensagem e com um simbolismo nobre e "pra cima". Meio "Everyday Use", da Alice Walker, mas mais fantástico, mais idiossincrático e mais doido. Não é à toa que é mais um dos contos dele nomeado ao World Fantasy.
Chambers Like a Hive — Conto — 3.0*
Entre sonho e realidade
Um homem estranhíssimo entra na vida da protagonista "como uma cortina de fumaça", e os encontros entre ambos vão ficando cada vez mais irreais. A realidade ganha aspecto viscoso. Eles saem com frequência; mas ela estranha a maneira como ele sempre aparece: basta que ela comece a pegar no sono, a cabeça a pender sobre o peito, e então ouve as batidas na porta. Quando estão juntos ela sempre procura, na rua ou no cinema, rostos familiares que a apontem "— Vi você com fulano ontem!", mas nunca acontece.
Os encontros vão ficando mais raros, o homem cada dia que aparece está menor e com "menos cor". Ele revela para ela os "quartos como colmeias" que existem debaixo da cada cama de cada um, e conectam todas elas entre si. O ghosting — real ou fantástico — que ela leva e a conclusão deixo a cargo do leitor, afinal, são meras três páginas.
ps. achei uma nova leva de contos do Bruce Holland na internet, então logo mais, mais entradas aqui.
O Menino Morto à Tua Janela — Conto — 4.5*
O Cotidiano, o Fantástico e o Mitológico.
A partir dessa grande abertura, desenvolve-se um dos melhores contos (ou flash fiction; ou mini-conto; ou micro-conto — chame como quiser) que li ultimamente.
Em uma prosa de ficção extremamente concisa, polida, mas de uma cismática imaginatividade que encerra um misto de sensações e toca, por meio do fantástico, em sóbrios temas. É a narrativa um menino-morto, tão fino que voa no ar como pipa, carrega consigo amor e memória; e dái, desenvolve-se a narrativa.
Infelizmente, não acho esse livro do Bruce Holland Rogers em lugar nenhum e tenho que, por enquanto, me contentar com esses intervalados contos que encontro — com sorte — nos lados capinados do matagal das redes.
O Gênio que Vive entre a Noite e o Dia — Conto — 3.5*
Gênios e Desertos alá Scherazarde
Outro destes preciosos achados, é quase pecaminoso deixar entrever muito dessa narrativa: é a experiência de leitura que o engrandece; e esse tem sido um dos pontos altos do autor para mim.
Mais uma vez imerso no fantástico e no místico, temos aqui como ponto central um mundo de gênios e desertos, que em menos de cinco páginas (ele adora trabalhar com essas ficções curtas) ganha mais vivacidade e desperta nosso interesse tanto quanto as melhores histórias das Mil e uma Noites, inspiração, certamente, para esta história.
A narração centra-se em torno de um gênio, Al-Faq, que: "vivia na fresta entre a noite e o dia. Raramente se aventurava nos mundos dos seus semelhantes, e muito menos no mundo dos mortais."
Por essa razão (a introspecção e o isolamento), e talvez pela hospitalidade, pelo bom chá, e pelo ouvido atento e curioso para com os outros, é visitado "tanto os espíritos obedientes como os desobedientes (que) o consideravam um dos seus (...) para lhe contar as suas histórias."
Al-Faq recebe a visita de Tayab, um gênio das cinzas, que podemos adjetivar como um dos desobedientes, mas que pouco importa à Al-Faq, que coloca o chá a ferver, e prepara-se para ouvir o relato da vez: envolvendo mortes, pestes, o sentido das coisas e religiosidade. Menos "Scherazardiano" e mais "Hollandiano".
Possui, entretanto, a mesma forma de conto popular, com, arrisco dizer, a mesma magia — as repetições soam intencionais — que conhecemos tão intimamente desses contos antigos. Porém, aqui, neste deserto vermelho, temos um colorido a mais, um frescor a mais, fruto da prosa atraente e da imaginação lúdica, sem arestas, do Bruce Holland. E isso faz essa narrativa um dos melhores contos das Mil e uma Noites FORA das Mil e uma Noites".
Um homem que perde tudo; uma mulher que não aceita ser restituída de um roubo; o jogo dos gênios e a apreensão de um sentido — a necessidade de se agarrar, a fim de continuar vivendo depois de uma catástrofe.
Little Brother — Conto — 2.0*
Gramaticalmente perfeito, estilisticamente imperfeito.
Com menos de cinco páginas, não é trocadilho dizer que este é um conto menor do Bruce Holland. Longe do fantástico e mais próximo da especulação (ainda que de leve) da ficção científica, a prosa apesar de "redonda", perde a magia das histórias anteriores, não toca em lugar algum, apesar de riscar, em seu encalço, pequenas questões. É demasiado pautado em uma peripécia final: arriscaria dizer que totalmente composto a partir dessa virada final, ao ponto de que tudo que o precede vem escrito de maneira acessória.
Um menino deseja incessantemente ganhar um irmãozinho (o tal Little Brother) de natal, e quando a mãe finalmente lhe dá, e eles se conhecem, e brincam juntos, a primeira coisa que o menino faz é... procurar o botão de desligar.
O conto assemelha-se àquelas frases e parágrafos gramaticalmente perfeitos, mas que pouco ou nada dizem. É salgadinho de noventa e nova centavos de água e sal: não é ruim, mas também não é bom, não enche, mas também não esvazia. ( )