Vergílio Ferreira

Mais um belíssimo livro de Vergílio Ferreira, um dos meus autores de sempre. "Manhã Submersa" é uma viagem interior que trespassa o sentir de uma adolescência específica, num tempo e espaço muito específicos. Um livro que terá dado ânimo ou atingido nostalgias a muitos que o leram e que agora se distancia muito da nossa realidade. Contudo enquanto exercício literário continua a oferecer-nos um acesso privilegiado aos sentires de alma, como só a literatura consegue fazer. É um livro pequeno, com um história curta, mas que se adensa por tudo o que nos leva a descortinar do ser humano.… (altro)

Romance altamente solipsista de Vergílio Ferreira, Nítido Nulo conta a história dos últimos momentos de um desencantado revolucionário que se vê condenado à morte pelo fuzil. O livro desdobra-se entre as suas memórias, que vai aos poucos desvelando, e a observação quase fenomenológica da paisagem que, desde o cárcere, se lhe revela, tudo isto narrado por Vergílio Ferreira num estilo que se poderia apelidar de António Lobo Antunesiano avant la lettre.
Numa apreciação genérica, deve dizer-se que Nítido Nulo não é o romance mais bem conseguido do autor, pois a escrita aparece como rebuscada em excesso, confundindo o leitor para além do desejável, sobretudo nos primeiros capítulos. Longe se está, portanto, das obras de ficção que se lêem de modo mais escorreito, como Manhã Submersa ou mesmo Aparição. A reflexão existencialista está lá, talvez até mais presente que nunca, mas ao invés de outros títulos do autor, mormente os dois atrás citados, não é equilibrada por uma ficção que cative, desde cedo, o leitor.
O livro vale, portanto, mais pela apresentação de algumas fagulhas esclarecedoras e cativantes, como por exemplo sobre a eterna questão da existência/não existência de Deus, do que como romance.… (altro)